Poucas frases do mundo contemporâneo resumem tão bem a distopia-do-real em que estamos mergulhados do que estas: Make Orwell Fiction Again e Isso é Muito Black Mirror. A primeira, utilizada sobretudo pelos ativistas que resistem ao Trumpismo triunfante nos E.U.A., é outro modo de dizer que 1984 não era um manual de instruções (e sim uma denúncia do totalitarismo); a segunda, uma referência ao seriado britânico criado por Charlie Brooker que já se consolidou entre as mais importantes peças de ficção especulativa de nossa época hiperconectada. Nesta época em que o narcisismo virou um esporte de massa. E nada radical (cf. Anselm Jappe). Em que a cultura da selfie disseminou-se em meio à proliferação do que Paula Sibilia apelidou sagazmente de O Show do Eu. Cada um hoje carrega hoje seu espelho no bolso: o celular, seja ligado ou desligado, é nosso portátil espelho de Narcisos digitalizados. Estamos todos um pouco dopados de Dopamina, manipulados desde o Vale do Silício para o Rat Race da visibilidade narcísica.
É um pouco por aí que tecerei reflexões no evento do IFG, através de seu Núcleo de Pesquisa em Filosofia (NUPEFIL), seguindo nas pegadas de Maria Cristina Franco Ferraz, e ousando também “vôos-solo”: o evento ocorre no câmpus Goiânia na Quinta-feira e será gravado para posterior publicação em www.acasadevidro.com. Não se decifra o enrosco de mundo em que estamos metidos sem o salutar auxílio destas relevantíssimas pensadora, e é na companhia de Sibilia e Maria Cristina que explorarei alguns temas que também perfazem parte de minha tese de doutorado em curso (realizada na UFG com período de internacionalização na UvA/Amsterdam, sob orientação de Carla Milani Damião).
De quantos likes se faz a felicidade segundo as doutrinas da Happycracia? Ou isto tudo é uma grande falácia, e o bem-viver está alhures, distante dos pódios das telinhas, longe dos locais de visibilidade “democratizados” que a Internet propicia? Tudo considerado, a proliferação do show do eu e a concomitante devastação planetária propiciada pelo capitalismo neoliberal andam pari passu – e talvez seja a corrosão do nós – outro nome para o colapso da solidariedade – que está levando à combustão do mundo, à 6a extinção da biodiversidade e ao risco de Terceira Guerra Mundial/Nuclear (aquela após a qual baratas radioativas disputararão os despojos do extinto homo sapiens). O Antropoceno é muito Black Mirror, e pretendo explanar um pouco dos porquês.
Expresso meu agradececimento ao Renan Rocha, colega educador, também prof. de filosofia do IFG, com quem me re-encontrei em Recife durante a XX ANPOF e que me convidou para compor este coro.
Eduardo Carli de Moraes
IFG Goiânia – Quinta – 12 de Dezembro de 2024 – 8h35 às 10h
Mesa 1
TÍTULO: TECNOLOGIA, SUJEITO E SOCIEDADE: DISTOPIAS CONTEMPORÂNEAS E RECONSTRUÇÃO DE EXISTÊNCIAS E SABERES
Componentes:
Maria Eliane (IFG)
Eduardo Carli de Moraes (IFG)
Marcela Castanheira (IFG)
Coordenação da mesa:
Iarle Ferreira (IFG)
Leituras pertinentes:
Publicado em: 08/12/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia